Carimbó Modelo

Em 1993, junto um pequeno grupo de amigos e acompanhado de se filho mais velho, o Sr. José Pinheiro (Zeca Lima), teve a iniciativa de formar um conjunto de carimbó em Castanhal, já que não se tinha registro de nenhuma formação semelhante na cidade. O grupo, composto por seis pessoas, iniciou suas apresentações e com o fortalecimento do conjunto, o grupo passou a ser conhecido como Conjunto de Carimbó Modelo de Castanhal, em homenagem ao município, que tinha o título de Cidade Modelo.

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Entrevista com Isaac Loureiro_Revista Raiz

A luta de um patrimônio

Por Revista RAIZ.
14 de abril de 2008

O Portal RAIZ. continua a investigação sobre a importância do registro do Patrimônio Imaterial na cultura de um povo.

Por Thereza Dantas

O Portal RAIZ. iniciou uma série de entrevistas sobre a questão do Patrimônio Imaterial. Já participaram o antropólogo Marcelo Manzatti, o músico paulista do Samba da Vela e do Quinteto Branco e Preto, Magnu Souzá, e agora o pesquisador Isaac Loureiro responde as perguntas sobre a importância do registro de festejos, desenhos e músicas, entre outros eventos que marcam a cultura nacional junto ao IPHAN, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

Isaac está liderando uma campanha no Pará pelo registro do Carimbó e não tem economizado esforços para mapear e reunir os carimbozeiros do norte do país. Desde o início do ano de 2008, já foram mais de cinco encontros entre os mestre desse estilo musical de origem indígena. É dele também a iniciativa de um abaixo assinado para ser entregue ao MinC. Para Isaac o registro é importante e necessário. “Diante do acelerado processo de desagregação social e homogeneização cultural que atinge a região amazônica, onde as culturas nativas e tradicionais vem sendo velozmente atropeladas pelos produtos culturais da modernidade capitalista, o que ameaça a diversidade e as identidades próprias dos povos desta região", explica.

“O Carimbó é o gênero musical tradicional mais conhecido do Pará, cuja manifestação ocorre há mais de dois séculos em quase todas as regiões do Estado, sendo considerado um elemento fundamental da identidade cultural de nosso povo”, afirma Isaac Loureiro. Resultado da formação histórica e cultural das populações da Amazônia, sua perenidade e resistência deve-se principalmente a processos de transmissão oral e a modos de vida tradicionais preservados pelas comunidades do litoral e do interior paraense, dentro de sua rotina social, cultural e ambiental.

A seguir a entrevista completa com o pesquisador Isaac Loureiro sobre o Carimbó, suas raízes e a importância do registro junto ao IPHAN para manter essa manifestação viva.
Saudações carimbozeiras ao movimento!


Portal RAIZ.: Quais são as raízes do carimbó?
Isaac Loureiro: O carimbó é a música e dança tradicional paraense por excelência. Suas raízes, segundo historiadores e cronistas, estão ligadas à cultura indígena e negra da Amazônia desde o século 18.

O mais antigo registro escrito sobre o carimbó foi feito pelo jesuíta Frei João Daniel, em 1767, onde ele descrevia a música e dança executadas pelos índios Tupinambás com um tambor feito de madeira oca recoberto com pele de animal (por isso o nome curi m'bó em tupi, ou madeira ôca) que era tocado deitado no chão com o batedor sentado em cima e usando as mãos como se fossem as baquetas, forma tradicional que permanece até hoje. Por outro lado, a história oral cultivada em algumas localidades como Marapanim e Maracanã, na região do Salgado paraense, nos informam do surgimento do carimbó em algumas comunidades formadas por negros oriundos do vizinho Maranhão ou por escravos fugitivos das fazendas da região, que se estabeleceram ao longo do litoral.

Os tambores e seu toque apresentam parentesco com o batuque africano, sendo por isso considerado que o carimbó é irmão do tambor de crioula, do samba-de-cacete e de outros gêneros afro-brasileiros. Mas o uso dos maracás e da flauta na música, o pé arrastado e a postura arqueada na dança, entre outros elementos, manifestam sua ancestralidade indígena.

Porém, para além da polêmica sobre a origem indígena ou negra desta manifestação, não há dúvidas que o carimbó é uma síntese poderosa e reveladora da formação histórica, social e cultural do povo paraense e amazônida, considerando sua capacidade de incorporar elementos das diversas culturas presentes no processo de construção da identidade cultural brasileira (indígenas, negros e o colonizador europeu), conseguindo se afirmar e resistir como expressão autêntica da criatividade, da beleza e da força desta população.

Portal RAIZ.: Porque a mobilização para o registro junto ao IPHAN?

Isaac Loureiro: A idéia de registrar o Carimbó como Patrimônio Imaterial do Brasil se deu a partir do diálogo estabelecido entre a Irmandade de Carimbó de São Benedito, da cidade de Santarém Novo, e o IPHAN Regional PA/AP, ainda em dezembro de 2005, por ocasião da realização do 4º FEST RIMBÓ – Festival de Carimbó de Santarém Novo, evento que desde 2002 vinha promovendo a valorização do Carimbó na região do nordeste paraense.

Foi nesse espaço que o IPHAN apresentou à Irmandade e aos grupos presentes o Programa Nacional de Patrimônio Imaterial, falando sobre o processo de registro e abrindo assim a possibilidade de tornar o Carimbó patrimônio imaterial da cultura brasileira. Assumindo essa proposta, a Irmandade os grupos de carimbó dão início à mobilização para viabilizar esse registro, o que levou à organização da Campanha “Carimbó Patrimônio Cultural Brasileiro” em dezembro de 2006 e à formalização do pedido de registro junto ao IPHAN em fevereiro de 2008.

Para nós, o registro do Carimbó como bem cultural de natureza imaterial significa um importante passo para garantir sua preservação e seu reconhecimento como patrimônio de nossa cultura, elemento essencial e definidor de nossa identidade. O registro se faz necessário diante do acelerado processo de desagregação social e homogeneização cultural que atinge a região amazônica, onde as culturas nativas e tradicionais vem sendo velozmente atropeladas pelos produtos culturais da modernidade capitalista, o que ameaça a diversidade e as identidades próprias dos povos desta região.

Registrar o Carimbó é um processo que exige uma ampla mobilização da sociedade, das instituições públicas e dos atores sociais que estão diretamente envolvidos na manutenção desta manifestação. Por ser um bem cultural presente em diversas localidades, em diferentes contextos, com múltiplos significados, acreditamos que toda essa diversidade deve também estar representada no acompanhamento desse processo, participando efetivamente das discussões, contribuindo no trabalho de pesquisa do inventário, articulando alianças e elaborando propostas em sintonia com as necessidades dos grupos e comunidades carimbozeiras.

Nesse sentido, a organização da Campanha “Carimbó Patrimônio Cultural Brasileiro” vem cumprir o objetivo de integrar os segmentos sociais e culturais ligados ao Carimbó, proporcionando a todos um espaço de cooperação, reflexão e ação coletiva em prol do reconhecimento e valorização dessa tradição cultural popular.

Portal RAIZ.: Vocês já tem um mapeamento dos artistas do carimbó do Pará?

Isaac Loureiro: Infelizmente, ainda não. Temos muitas informações sobre os grupos, seus mestres e músicos, conhecemos muitos deles, graças aos festivais de carimbó que favorecem esse encontro. Mas não há um mapeamento sistematizado e completo. Acreditamos que com o processo de registro esse mapeamento irá ser realizado, uma vez que teremos a oportunidade de visitar cada município, conhecer melhor esses grupos, sua história, sua identidade, seus problemas e necessidades. Através da campanha já estamos organizando um banco de informações.

Portal RAIZ.: O que você acredita que mudará caso o carimbó seja registrado como patrimônio imaterial?

Isaac Loureiro: Muita coisa, em vários níveis. Nas comunidades onde o carimbó é tradição profunda, como em minha cidade (Santarém Novo), acreditamos que o registro irá fortalecer a identidade local, a auto-estima, a organização dos produtores tradicionais, a valorização do trabalho dos mestres, a atratividade sobre as novas gerações, aumentando o cuidado com a preservação e difusão da manifestação, com grandes possibilidades de geração de trabalho e renda com cidadania, sustentabilidade ambiental e inclusão social. Nessas comunidades esperamos que o processo resulte em uma consciência cada vez maior, por parte da população, do seu protagonismo e responsabilidade em relação à nossa cultura.

Em relação à esfera governamental, esperamos que o registro ajude a mudar o tratamento dado historicamente às culturas populares, em especial o carimbó, que nunca teve política pública de cultura específica para atender suas necessidades e peculiaridades. A perspectiva é que os vários níveis de governo, através de suas instituições culturais, estabeleçam mecanismos de diálogo e parcerias com as comunidades e grupos de carimbó, construindo propostas e ações de valorização e salvaguarda desse patrimônio imaterial.

Acreditamos também que a sociedade em geral irá modificar seu olhar sobre o carimbó, à medida em que vai recebendo informações mais profundas sobre essa manifestação, percebendo suas dimensões simbólica, ambiental, econômica e social. Esperamos superar a visão superficial que a maioria tem sobre nossa tradição, aquela concepção “folclórica” (no sentido mais pejorativo do termo) comumente apresentada aos turistas desavisados como sendo a verdadeira. Queremos ir além da mentalidade mercadológica, do “show business”, que pensa a cultura apenas como produto a ser consumido, na maioria das vezes, sem considerar os valores e a história próprios de cada expressão cultural.

Esperamos que o carimbó seja trabalhado nas escolas e universidades como elemento importante na formação e afirmação de valores e identidades, que as crianças, jovens e adolescentes possam ter acesso às informações e à vivência sobre a dança, a música, a poesia, as histórias preservadas pela oralidade dos mestres... Que a sociedade brasileira assuma e reconheça o carimbó como parte fundamental de nossa diversidade cultural.

Portal RAIZ.: Qual é o caminho do carimbó atualmente?

Isaac Loureiro: O carimbó hoje busca o seu reconhecimento mais amplo, mais profundo, lutando para afirmar sua importância para toda a sociedade brasileira. Nosso caminho atual é de organização e construção desse movimento cultural e identitário. Hoje os grupos estão buscando se articular de forma mais coletiva, compartilhando compromissos e idéias, aprendendo a trabalhar juntos respeitando toda a diversidade que existe dentro do carimbó. Há também um caminhar mais forte no sentido da autonomia e protagonismo das comunidades e dos seus grupos, uma necessidade concreta de unidade e organização para conquistar cada vez mais espaço e reconhecimento. Do ponto de vista artístico, vemos um crescente fortalecimento do estilo tradicional de música, canto e dança, que ganham mais visibilidade nos eventos, na mídia e nas comunidades. Diríamos que é uma espécie de mergulho profundo em si mesmo, suas raízes e valores, um estado de preparação e revigoramento para novos combates, como antes faziam nossos ancestrais em suas aldeias e mocambos. Queremos estar preparados para o que virá.


Registro do Carimbó:
Você pode contribuir para o registro do Carimbo como Patrimônio Imaterial.
Basta enviar seu nome completo, número do RG, Entidade/Grupo, Município/Estado, Telefone e E-mail para o e-mail: carimbopatrimonioculturalBR@gmail.com
Para mais informações: 91 - 9995-4422 (Isaac) ou 91 - 8159-0594 (Solange)

Par ler a outras entrevistas sobre Patrimônio Imaterial do Portal RAIZ.
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