Carimbó Modelo

Em 1993, junto um pequeno grupo de amigos e acompanhado de se filho mais velho, o Sr. José Pinheiro (Zeca Lima), teve a iniciativa de formar um conjunto de carimbó em Castanhal, já que não se tinha registro de nenhuma formação semelhante na cidade. O grupo, composto por seis pessoas, iniciou suas apresentações e com o fortalecimento do conjunto, o grupo passou a ser conhecido como Conjunto de Carimbó Modelo de Castanhal, em homenagem ao município, que tinha o título de Cidade Modelo.

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Mestre Lucindo recebe homenagens


Nascido no dia 3 de março de 1908, em Água Boa, no município de Marapanin, se estivesse vivo Mestre Lucindo faria, hoje, 102 anos.

Ao lado de Verequete e Cupijó, ele completa o triângulo sonoro mais famoso e tradicional do carimbó pau e corda paraense.

Em homenagem ao mestre, dois eventos estão sendo preparados para Belém, com objetivo de chamar a atenção da sociedade para a importância desse mestre da cultura popular paraense.

A primeira homenagem acontece no próximo dia 17, com uma palestra do Prof. Dr. Antonio Maciel.

“O pesquisador conviveu, por sete anos, com Mestre Lucindo e desenvolveu, a partir desse contato, uma concepção à respeito da transversalidade do gênero matriz do carimbó, colocando-a no centro das discussões sobre sustentabilidade e globalização”, diz o produtor e músico Márcio Macedo.

O outro evento chamado “Reunida do carimbó” vai provocar o encontro de vários artistas para celebrar o Carimbó de Lucindo. Os locais ainda estão sendo fechados pela M.M. Produções, que está à frente da iniciativa. Vamos aguardar.



'A lua sai de madrugada
Sai no romper do sol

Ela sai acompanhando
Os namorados que andam só...

Ô, lua! Ô, lua! Ô, luar!
Me leva contigo pra passear'


O canto de Lucindo, pedra angular do carimbó, se assenta na força da natureza


'O banco da minha canoa foi a minha escola'. A afirmação do pescador Lucindo Rebelo da Costa retrata toda a realidade e também o imaginário das comunidades tradicionais da Amazônia, formada basicamente de pescadores, agricultores, coletores de frutos, catadores de caranguejo e outros cidadãos do Brasil profundo. Todos eles ligados por um gênero musical que revela as entranhas dos povos da região: o carimbó. Foi justamente por compor esse tipo de música, canto e dança que entrou para a história da cultura amazônida, que o pescador Lucindo Rebelo da Costa, o mestre Lucindo, ficou internacionalmente conhecido. Hoje, quando se comemora 100 anos do nascimento de Lucindo, criança cabocla nascida em 3 de março de 1908, no lugarejo de Água Boa, município de Marapanim, nordeste do Estado, a voz desse mestre do carimbó, que morreu aos 80 anos, em setembro de 1988, marca presença no coração de quem é paraense.

Neste ano do centenário do nascimento de mestre Lucindo, a Irmandade de Carimbó de São Benedito, do município de Santarém Novo, capiteaneada pelo historiador Isaac Loureiro, e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) encaminham um processo de tombamento do carimbó como patrimônio imaterial da cultura brasileira. Nada mais justo para com os amazônidas que têm no carimbó o símbolo máximo da relação de gerações com a natureza na região. Um reconhecimento para a vida e obra de mestre Lucindo.

Foi do pai pescador que Lucindo herdou a pesca e a cultura do carimbó, de acordo com o professor da Faculdade da Amazônia (Fama), Antônio Maciel, autor de uma tese de mestrado na PUC de Campinas (SP), intitulada 'Carimbó - Canto Caboclo', de 1983, enfocando o gênero musical a partir da obra desse mestre de Marapanim. Maciel estuda carimbó há 25 anos, e por sete anos conviveu com mestre Lucindo, registrando a obra do compositor, pesquisa que resultou no livro 'Curimbó - O Tambor da Vida', pronto para ser editado, faltando patrocínio. Maciel realiza oficinas pedagógicas em escolas de Campinas e em Belém com base na obra de mestre Lucindo.

Após fazer contatos com o historiador Vicente Salles, em Brasília (DF) e com a antropóloga Lourdes Furtado, do Museu Goeldi, em 1980, Antônio Maciel encontrou-se com mestre Lucindo na casa do compositor, em Marapanim. 'Havia um festival de carimbó na cidade, mas mestre Lucindo não estava lá, porque havia se aposentado, conforme me disseram. Aí, eu fui até a casa dele, seguindo um som de curimbó, no outro lado da cidade, e ele estava tocando em casa com o grupo dele, ‘Os Canarinhos’, e, então, eu fiquei encostado na parede ouvindo a música'. Lucindo convidou o visitante para se sentar, e, depois de certo tempo, concordou em conversar com o professor sobre suas composições. 'Eu comecei a gravar a conversa com ele, e aí começou a pesquisa que nunca mais terminou, porque o carimbó é um universo inesgotável de informações.


DIABETES


Lucindo morreu na rede da casa dele, vítima de gangrena, por complicaões decorrentes de diabetes. Ele casou-se com dona Waldomira, e não teve filhos, mas adotou um menino com quem chegou a tocar para alegrar a vida. Em 1976, foi lançado um elepê com músicas de mestre Lucindo, intitulado 'Isto é Carimbó', mas o mestre só recebeu o suficiente para comprar cachaça e cigarros, como chegou a relatar em certa ocasião. 'Sou poeta da natureza', afirmou, certa feita, Lucindo, que mostrou ao professor universitário o rio Marapanim, a lenda da Cobra Grande, o mercado de peixe, o mangue e o pássaro maçarico nas praias. 'Lucindo contou que na praia o maçarico dá o sinal da reponta da maré. Ele disse: ‘O maçarico é o nosso relógio, é o relógio do pescador. Ele sabe quando a maré vai encher para trazer comidinha para ele e peixe para o pescador. A gente tem que escutar o cantar dele’ '. Lucindo compôs a canção 'Maçarico'.

A preocupação com a preservação do carimbó era uma constante na vida do mestre do carimbó, por ser o meio ambiente vital para as comunidades tradicionais amazônicas. 'Eu peguei um galho para fazer o maçarico voar, mas Lucindo disse para não maltratar o animal, porque ele é muito importante para o pescador, e eu seria, então, flechado, ‘você adoece e morre'. Essa colocação corresponde à 'pedagogia do medo', vigente entre os membros de comunidades tradicionais na Amazônia.

A poética de mestre Lucindo caracteriza-se pela primeira parte da obra descrevendo, em geral, uma situação do meio ambiente em que o autor vive, como cadeia animal alimentar, acasalamento de animais e outros temas, e na segunda parte, associação de um fato que presenciou a uma questão social da exploração do homem pelo homem. Entre os versos do mestre que fazem parte da nossa história figuram:

'Maçariquinho no meio do igarapé

Fazendo péréré na reponta da maré...

Péréré, péréré

Fazendo péréré

Na reponta da maré'




'Minha rolinha que marisca pelo ar

Não mate! A rolinha não sabe avuar

Minha rolinha que marisca pelo chão

Não mate! A rolinha é do meu coração...'




'A lua sai de madrugada

Sai no romper do sol

Ela sai acompanhando

Os namorados que andam só...

Ô, lua! Ô, lua! Ô, luar!

Me leva contigo pra passear'




'Veado do mato é bicho corredor

Corre, veado! Lá vem caçador...'




'Eu tenho pena do meu canário

Que vive preso numa gaiola

É prenda, é prenda, é prenda

É prenda de uma senhora...'


Eduardo Rocha
Da Redação
Edição de 03/03/2008
Fonte:http://www.orm.com.br/oliberal/interna/default.asp?modulo=248&codigo=326264